sábado, 13 de outubro de 2012

TRATAMENTO DO CRACK EXIGE UNIÃO DE DIFERENTES ÁREAS.

Tratamento e reinserção social de usuários de drogas exigem união entre pessoas de diferentes áreas de formação

 
Fonte: Eu, Estudante    Matéria publicada em 24 de janeiro de 2011
por Manoela Alcântara

Em comum, todos esses profissionais precisam ter disponibilidade. A recuperação para os dependentes químicos pode acontecer por meio de métodos diversos, com a adequação das técnicas para cada caso. Por isso, as clínicas buscam profissionais com diferentes perfis, mas que tenham a capacidade de se adequar à realidade do ambiente em que trabalharão. E muitos deles se interessam por essa área de atuação desde a graduação. Ester Giraldi Dias, proprietária da Mansão Vida — uma clínica que atende cerca de 250 pessoas em regime de internação —, por exemplo, tem buscado universitários que queiram se especializar nesse tipo de atendimento para estagiar. “Quem passa por aqui aprende na prática e ainda faz cursos de formação”, conta.
O psicólogo Rodrigo Pereira sempre trabalhou com saúde mental. Desde a faculdade, interessou-se pelo tema e uniu a experiência do trabalho em clínicas com capacitação. “Nessa área, percebi que os pacientes precisam de tratamento em grupo. A integração entre os especialistas, a família e os amigos é essencial para o sucesso de todo o processo, que não é fácil”, afirma. O objetivo dos tratamentos é a reinserção dos dependentes na sociedade.
Na busca pela cura dos usuários de drogas, Rodrigo se especializou em psicologia jurídica voltada para o ambiente psiquiátrico e para a saúde mental. Mas, apesar da vasta formação, o psicólogo conta que o preparo emocional para trabalhar com esse público foi adquirido por meio da experiência. “Infelizmente, todos os dias lidamos com casos diferentes. Aprendemos quando uma medicação é necessária e quando o convívio é mais importante. Os profissionais da minha área precisam ensinar essas pessoas a voltar a viver depois de muito tempo como dependentes, a fazer novos ciclos de amizade e a sair da clínica e não ter recaídas”, analisa.
Foi também a experiência que deu know-how para Marcello Loureiro Rodrigues, 44 anos, ajudar usuários a lutarem contra o vício. Formado em administração e com diversos cursos técnicos na área de dependência química, ele hoje preside a ONG Renovando a Vida (R.A.V). Mas Marcello esteve do outro lado dessa relação. “Fui usuário de todas as drogas. Usava crack, cocaína, maconha, álcool, e consegui me recuperar. A partir desse dia, decidi que ia dedicar minha vida a isso”, diz. Para ele, toda instituição voltada para o tratamento precisa ter médicos especializados em clínica geral, além de pessoas que sejam capazes de entender o sofrimento dos usuários, principalmente pelas crises de abstinência.
Hoje prevista no Código Internacional de Doenças (CID), a dependência de drogas já é considerada causadora de transtornos mentais, comportamentos diferenciados e outros problemas de saúde. “É preciso ter um médico para o atendimento emergencial e para a medicação necessária em casos de comorbidades como a bipolaridade e a esquizofrenia ligadas à dependência química”, observa Loureiro.
Técnicos de enfermagem
Ao perceber a falta de qualificação no mercado de trabalho, muitas clínicas abrem cursos, firmando parcerias com universidades. Mas, por ver a crescente procura por internações e a falta de profissionais, Ester decidiu reunir pessoas do meio para, até junho, abrir a primeira escola técnica de enfermagem voltada para a saúde mental, em Santo Antônio do Descoberto (GO).
Políticas e vagas à vista
Entre as iniciativas estatais voltadas para a recuperação de narcodependentes está o projeto Consultórios de Rua, do Ministério da Saúde. A estimativa é que, em 2011, sejam criadas 73 novas unidades — atualmente são 35 em todo o país, que atendem a população em situação de vulnerabilidade e os usuários de crack com política de tratamento e redução de danos.
Há ainda o Plano de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas, também do governo federal, que deve receber investimentos de R$ 410 milhões este ano. Desse total, R$ 140 milhões serão destinados à habilitação de 2,5 mil leitos em hospitais, à implantação de 50 Centros de Atenção Psicossocial 24 horas para Álcool e Drogas (CAPs AD III 24 Horas) e à construção de 40 Casas de Acolhimento Transitório, além do fortalecimento de 225 Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf), que têm como prioridade a atenção integral a usuários de crack, álcool e outras drogas em municípios com população menor a 20 mil habitantes.
Todo esse investimento deve criar uma grande procura por profissionais capacitados. E, para suprir essa demanda, serão criados 30 Centros Regionais de Referência de Formação Permanente, que oferecem qualificação, e 50 módulos do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET Saúde), no qual estudantes e professores universitários desenvolvem pesquisas e recebem instrução para serem multiplicadores de informações sobre dependência química.
No Distrito Federal, haverá implantação de dois CAPs AD III logo que os projetos estiverem prontos e aprovados. Cada um deles terá verba de R$ 720 mil ao ano, repassados pelo Ministério da Saúde. Caberá ao Governo do DF colocá-los em funcionamento e contratar profissionais capacitados.

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