Política com futebol: Deputado Romário discursa na Câmara e pede transparência na cbf. íntegra do discurso aqui.
Terça Feira, 19 de Março de 2013
... o discurso foi realizado ontem, 18.março.2013
... o discurso foi realizado ontem, 18.março.2013
Confira,
na íntegra, o vídeo e a respectiva transcrição do histórico discurso realizado
pelo deputado Romário pedindo investigação contra os agentes da ditadura, que
tanto envergonharam a população brasileira.
Entre
eles, o atual presidente da CBF, José Maria Marin, que discursou à época, a
favor de torturadores, chegando ao cúmulo de pedir “providências” contra alguns
dos que lutavam contra o regime, entre eles o jornalista Vladimir
Herzog
“Senhor Presidente, Senhoras e
senhores parlamentares:
Foi com grande satisfação que
li a notícia sobre a manifestação da ministra dos Direitos Humanos, Maria do
Rosário, em apoio ao discurso que eu proferi na semana passada, defendendo que
sejam investigadas as possíveis relações entre o presidente da Confederação
Brasileira de Futebol, Senhor José Maria Marin, e os órgãos de repressão do
regime militar.
Como todos sabem, o Senhor
Marin militou na ARENA, o partido da ditadura, e pode ter tido participação,
mesmo que indireta, nos eventos que levaram ao assassinato do jornalista
Vladimir Herzog, nas dependências do DOI-CODI.
Na condição de presidente da
CBF, José Maria Marin estará ao lado da presidente Dilma Rousseff na recepção
aos chefes de Estado que virão para a Copa das Confederações, em junho deste
ano, e para Copa do Mundo, no ano que vem.
E eles dividirão,
possivelmente, a mesma tribuna de honra nos eventos esportivos.
Acho que essa proximidade será
meio constrangedora para nossa Presidente, pois ela conheceu de perto, muito
perto, a brutalidade daquele regime que prendia e torturava, à margem da lei,
contando com o apoio do ex-vereador, ex-deputado estadual e ex-vice-governador
de São Paulo, Senhor José Maria Marin.
Como afirmou o jornalista
Zuenir Ventura, em artigo no Globo, chega a ser irônico que um admirador do
torturador Sérgio Paranhos Fleury esteja à frente do nosso futebol, quando o
país é presidido por uma pessoa que sofreu nas mãos dos
torturadores.
Eu diria, Senhor Presidente,
que esse é o tipo de ironia que não tem a menor graça.
Eu gostaria de transcrever uma
parte da fala da Ministra Maria do Rosário, como foi reproduzida no jornal O
Globo, para que fique registrada nos anais desta Casa.
Ela disse o seguinte (abre
aspas):
“Eu penso que todas as pessoas
que comprovadamente estiveram envolvidas em situação de morte, tortura e
desaparecimentos forçados não devem ocupar funções públicas no
país.
Porque os que cometeram – e se
cometeram comprovadamente estes atos –, traíram qualquer princípio ético de
dignidade humana e não devem ocupar funções de representação”. (Fecha
aspas)
Por isso, vou solicitar
audiência com a Senhora Ministra, para agradecer pessoalmente essamanifestação
muito oportuna e bem-vinda, pois se trata do primeiro apoio público do Governo
Federal à campanha que se realiza em todo o país, com o objetivo de sabermos,
efetivamente, sobre o passado político do atual presidente da CBF e sua ligação
com a ditadura militar, de triste memória.
Eu soube hoje que o Senhor
Wadih Damous, presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos da OAB e da
Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, declarou considerar “correta e
urgente” a convocação do presidente da CBF pela Comissão Nacional da Verdade, a
fim de que ele possa explicar as suas ligações com a ditadura militar no
Brasil.
Ele disse o
seguinte:
“Marín era membro do partido
que dava sustentação parlamentar à ditadura e, à época do suplício de Vladimir
Herzog, o atual dirigente da CBF proferiu discursos agressivos e com nítido
caráter de delação contra o jornalista”.
Aliás, tem ganhado corpo a
campanha que a família Herzog lançou nacionalmente, com vistas ao afastamento de
José Maria Marín da presidência da CBF.
Até o momento, já foram
coletadas mais de 40 mil assinaturas pela internet.
Trata-se de um movimento que
merece nossa atenção e adesão.
Eu quero deixar aqui
registrado o meu apoio e convidar os colegas deputados e deputadas, e todos os
brasileiros, a fazerem o mesmo, em nome da democracia e dos direitos humanos,
que são direitos de todos e cada um de nós.
A essa preocupação que eu
tenho manifestado, Senhor Presidente, se somam outras.
Não podemos esquecer que o
Senhor Marin, à frente da CBF, tem sob o seu comando a principal manifestação
esportiva de nosso país, que é o nosso futebol.
A nossa Seleção é mais do que
um time, é uma manifestação cultural acompanhada de modo apaixonado nos quatro
cantos do Brasil, como eu pude testemunhar bem de perto.
A seleção leva, por onde
passa, o nome do Brasil, a nossa bandeira, as nossas cores, o nosso hino – e,
principalmente, os nossos jogadores.
Tem gente que conhece muito
pouco do nosso país, da nossa cultura, mas conhece o futebol e os jogadores do
Brasil.
Por isso, não seria exagero
dizer que ela é um símbolo nacional. Nélson Rodrigues dizia que a paixão dos
brasileiros pelo futebol é tão forte, que não seria exagero dizer que o Brasil é
“a pátria de chuteiras” – uma expressão feliz, que, aliás, se tornou o slogan
oficial da Copa de 2014.
Senhor Presidente, Na última
semana eu comentei sobre a parceria da CBF com a poderosa multinacional
Nike.
Insisto neste assunto, pois
entendo que, ao explorar a imagem desse símbolo do nosso país, a CBF deve
prestar contas e ter transparência nas suas ações. Eu insisto, por exemplo, em
conhecer a destinação desses patrocínios à Seleção Brasileira.
Quem ganha e quanto
ganha?
Quem se beneficia da comissão
de mercado nessas transações milionárias?
Além da Nike, outras empresas
investem no uniforme da Seleção, como a Ambev, o Banco Itaú, Gillette, Vivo,
etc.
Consta que, depois da Nike,
que destina, em média, R$ 70 milhões anuais à CBF, a Ambev é a principal
investidora.
Conforme o contrato, são 15
milhões de dólares anuais, mais de 30 milhões de reais.
Estamos falando, aqui, de uma
instituição gigantesca, que opera com valores vultosos, mas cuja transparência
não existe, sabe-se lá por quê.
Dessa forma, crescem as
suspeitas sobre o destino dos patrocínios milionários.
Afinal, quem se beneficia
dessas somas, captadas em nome do nosso maior patrimônio esportivo, a Seleção
Brasileira?
Ao pedir “transparência” na
CBF, que é gestora de um futebol deficitário, com público cada vez mais reduzido
nos estádios, indago também sobre outras ações dessa empresa comandada José
Maria Marin.
Por exemplo, por que o
estatuto da CBF não é documento público?
Por que a CBF não publica o
estatuto no seu site, como fazem outras instituições esportivas?
Eu gostaria de saber se foi
com base nesse estatuto desconhecido que se realizou a última eleição na CBF,
quando o senhor Ricardo Teixeira foi eleito presidente, com José Maria Marín de
vice.
Que normas, que exigências tem
esse estatuto, que possam nos dar garantias de que aquela eleição atendeu a
todos requisitos da legalidade.
Foram cumpridas todas as
formalidades legais, desde a convocação da assembleia, registro de chapa, etc.,
até o voto de todos os eleitores?
Essa ata está disponível para
que se possa comprovar a lisura do pleito? São muitas questões, Senhor
Presidente, que precisam ser respondidas o quanto antes, principalmente porque
estamos entrando no momento de maior exposição do nosso futebol e até mesmo do
nosso País.
Acho que o povo brasileiro,
que tanto torce, sofre, chora e vibra com a nossa Seleção, tem o direito de
exigir um pouco de transparência, um mínimo de respeito.
Era o que tinha a dizer,
Senhor Presidente.
Muito obrigado.
Fonte: Blog do
Paulinho
na íntegra
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