sexta-feira, 12 de julho de 2013

A GLOBO DETURPA O QUE REALMENTE ACONTECEU NO RJ.

12/07/2013 00:01
A verdadeira história da violência policial
Reprodução do Globo online
Reprodução do Globo online
Por Luis Filipe Melo - Moderador

Fiquei impressionado com essa manchete do Globo online, que induz os leitores a acreditarem em mais uma mentira. Eu estava lá, desde o início até o fim, só não fui para o Palácio Guanabara. Por isso farei meu relato acompanhado de imagens que registrei para lhes mostrar o que realmente aconteceu. E afirmo: a ordem era para a PM dispersar o protesto de qualquer maneira. Vocês vão entender.

O tumulto na Candelária antes da passeata
A passeata ainda não tinha saído, os manifestantes estavam concentrados na Candelária, quando ocorreu o primeiro tumulto. Um maluco ou inconsequente jogou uma pedra na Igreja da Candelária. Na mesma hora três PMs pularam em cima dele dando pescoção, jogando no chão e arrastando. A reação parecia que era um terrorista que ia apertar o detonador de uma bomba. Claro que os policiais deveriam agir nesse caso, mas foi uma violência tão despropositada que revoltou as pessoas. A foto acima, mostra bem os policiais em formação enquanto arrastavam o vândalo, e do lado pessoas que não era o grupo encapuzado, até de terno, fazendo sinais pedindo calma à PM. Só que a reação dos policiais não poderia ter sido pior, lançaram logo duas bombas de gás lacrimogêneo e começaram a dar jatos de spray de pimenta. Correria, desespero e revolta das pessoas que estavam ordeiramente na Candelária aguardando o início da passeata.

O grupo encapuzado
Esse grupo de cerca de 100 jovens, entre uns 17 e 25 anos, vestidos de preto, encapuzados, carregando quase todos mochilas, muitos máscaras anti-gás era claro que estava ali para arrumar confusão. Só que aí existe um detalhe importante que testemunhei. Da Candelária até a esquina da Rua S. José, o grupo dos encapuzados de preto foi acompanhado o tempo todo por um pelotão de cerca de 30 PMs de um lado, e outros 30 do outro. Estranhamente em frente ao Edifício Avenida Central veio uma ordem para os dois pelotões se afastarem e deixarem de monitorar o grupo. Se continuassem acompanhando-os certamente não teriam chance de agir livremente. Mas, sabe-se lá porquê, a PM recebeu ordem de se afastar.


O tumulto na esquina de Rio Branco com Almirante Barroso

Sem a escolta que os monitorava, na esquina seguinte, na Almirante Barroso, os encapuzados de preto começaram um tumulto. A PM respondeu com bombas de gás. Mais correria e pânico. Reparem pela foto, que a confusão era na Almirante Barroso na direção da Graça Aranha. Tanto que na Rio Branco a passeata prosseguia na direção da Cinelândia.

PM já tinha ordem de dispersar manifestação na Cinelândia
No meio da Avenida Rio Branco encontrei um policial militar que trabalhou no Palácio Guanabara no tempo de Garotinho e Rosinha. Não nos víamos há tempo, nos abraçamos e ele me soprou no ouvido: "Filipão, você é meu amigo. Quando a passeata chegar à Cinelândia cai fora. Não fica ali não. A ordem é 'tiro, porrada e bomba' (um jargão policial). O chefe (Cabral) tá com medo que a muvuca vá pro palácio".

Depois do tumulto na Almirante Barroso parecia que tudo voltava à normalidade. Na Cinelândia, a tropa de choque estava a postos, como mostram as fotos na escadaria do Teatro Municipal. Reparem que a passeata ainda não tinha chegado, na rua tem um buraco, as pessoas que aparecem nas fotos não estavam na passeata. Uns aguardavam na Cinelândia, outros claramente era pessoas que saíam do trabalho e ficavam observando à distância. O grupo encapuzado tinha ficado lá atrás.

Eis, que acontece outro fato estranho com o policiamento. Quando a passeata pacífica estava apontando na esquina do Teatro Municipal, o Batalhão de Choque recebeu ordem de se afastar e recuar para a Treze de Maio. Pensei comigo: "Aí tem". Na hora que vai chegar a massa, o Choque se retira? 

Bombas de gás na Cinelândia

O que eu temia se confirmou. Um minuto depois do Choque se afastar, a PM começou a jogar uma sequência de bombas de gás lacrimogêneo na direção da Cinelândia. Senhoras desesperadas caindo, ajudei uma a se levantar. Um verdadeiro absurdo. Naquele momento a passeata nem tinha chegado. A maioria eram pessoas assistindo, tirando fotos.

O protesto das centrais sindicais que teria discursos na Cinelândia foi encerrado com todo mundo correndo das bombas, os carros de som acelerando e indo embora. Uma coisa deprimente.


PM continuou jogando bombas na Lapa e na Glória

Depois de muito correr, com os olhos e a garganta ardendo, coração a mil, cheguei à Lapa, na direção da Glória onde fica o escritório do Garotinho. Estava na Rua da Lapa, em frente à Associação Cristã de Moços, quando ouvi gritos e vi uma correria. Não havia nenhum manifestante, mas motociclistas da PM passavam jogando bombas de gás no meio da rua. O comércio e as pessoas em pânico total. Uma coisa surreal.


Balanço final

Este relato, documentado com fotos, é muito diferente do que o Globo noticiou. Não estou inventando nada, nem seguindo o "ouvi dizer". Eu estava lá e acompanhei tudo. Peço desculpas pela qualidade das fotos, mas ainda estou aprendendo a usar uma máquina profissional, e na correria, na mira das bombas da PM, não dava para ter calma e repetir.

Mas de uma coisa não tenho a menor dúvida. A PM tinha ordem para dispersar a manifestação - de qualquer maneira - na Cinelândia. Havia o temor de que ao final do ato, uma multidão seguisse para o Palácio Guanabara. 

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